sábado, 23 de fevereiro de 2019

Resgate das faquinhas judiadas do avô

 Estavam elas perdidas em uma gaveta, lá na casa velha de meu avô, que partiu para a estância grande do céu. As faquinhas machucadas pela lida de campo, com o dorso martelado, com cabos surrados, cujo destino era incerto. Daí o guasca resolveu salva-las, mas fui radical na transformação, pois o aço estava em péssimas condições e as facas não eram raridades. Fiz modestas faquinhas, sem requinte.
   Em ordem, da maior para a menor, os cabos são: ipê, nó de pinho (araucária) e roxinho. Seguem as fotos, ao final o que elas eram quando comecei. Alguns comentários aparecem abaixo de algumas fotos.













Essa era a melhorzinha...resolvi até fazer uma decoração, a espiga torta (para cima) como se percebe, precisei retirar parte dela para alinhar o dorso da faca com o cabo.



Nessa o desgaste pelo uso era grande, ponta torta, lâmina torta, resolvi radicalizar cortando boa parte e criando uma nova geometria. Me pareceu o aço mais macio, as outras foram difíceis de furar.



Se o cabo das outras era lastimável, o que falar desse? O meu avô não tinha muito capricho com as facas, essa estava com o dorso bem martelado, era o pau pra toda obra. Essa é uma lâmina bem delgada (1 mm de espessura) e apresentava uma trinca que me deixou desanimado, acabei resolvendo com um furo no final da trinca (para não aumentar) e ajustando o cabo.

   O que posso falar de meu avô, bravo, pouco estudo, gaúcho, tinha um bolicho e uma cancha de bocha, não se preocupava com suas facas. Teve 18 filhos e pra ele, se a faca resolvesse, já estava bom. Lembro dele beliscando as pernas da gente com os dedões do pé.... tempo que não volta.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Missão dada, missão cumprida!

  Fui fazer um curso de cutelaria com o mestre Ismael Biegelmeir em Feliz - RS. Tarefa árdua, mas tive dois ótimos companheiros, o Guilherme Bueno de Minas Gerais e o Márcio da NRP gravações. Uma semana puxada de segunda até sábado ao meio dia, fizemos duas facas, uma forjada e uma por desbaste, também a bainha para a faca forjada.
  O Mestre cuteleiro Ismael é uma pessoa muito bacana muito experiente com muita prática na cutelaria, possui inúmeros prêmios, com uma habilidade impressionante na lixadeira, de fazer inveja (no bom sentido). Nos recebeu extremamente bem, assim como sua família, encerramos o curso com um churrasco no sábado à tarde, fechamento com chave de ouro!

Ta aí o guasca com o mestre Ismael, no seu jeito descontraído de ser, chinelo e boné.

Forjamento do primeiro dia, aço 52100, 1 pol de diâmetro e 14 cm de comprimento. Ajuda do Ismael na prensa hidráulica para corrigir e arrumar o gavião e espichar a espiga. Faca gaúcha integral, umas das mais difíceis de serem feitas.

Te falo em calor durante o forjamento!


Resultado prévio, com horas de lixadeira. A faca por desbaste é desenho meu, ajustei depois o final do cabo (ver fotos mais abaixo).

Ajustando o cabo, nó de pinho (araucária).


Prévia do cabo, rádica de imbuia.

Resultado final! Ufa. Depois de 3 cabos, não arrisquei o quarto, o Ismael fez o desbaste grosseiro pra mim.

Nessa foto dá pra ver a linha de têmpera, aço 1070. A gaúcha também apresenta a linha, mas não aparece nas fotos. Já tava tão cansado e não quiz errar, pedi para o Cesar fazer o cabo na lixadeira, fiquei de olho para aprender.

   Agora seguem algumas fotos da oficina. A oficina tem equipamentos muito desejados...quem é cuteleiro sabe do que falo... rs



'Só' 6 lixadeiras pra trabalhar...aqui aparecem 5. Era o paraíso!




Seguem fotos do resultado final.

Características da Gaúcha Integral:

* Lâmina: aço 52100, forjada, têmpera seletiva.
* Fio: full flat , distal taper
* Tipo: gaúcha integral
* Comprimento total: 34 cm
* Comprimento da lâmina (fio): 22 cm
* Largura máxima: ~ 39 mm
* Espessura máxima: ~ 3 mm
* Peso: 225 gr
* Cabo: nó de pinho (araucária), só lixamento e polimento.
* Bainha: couro bovino, tingida e costurada manualmente.

Aqui o tarugo de 52100 de onde foi forjada a gaúcha integral. No braço, claro. O botão (ou bombinha) da faca é bem difícil de fazer.







Nessa foto, a linha de têmpera é quase visível.


Agora apresento a faca por desbaste,  ajustei em casa algumas curvas que não gostei, harmonizei o cabo e confeccionei a bainha.

Características da faca por desbaste:

* Lâmina: aço 1070, barra chata, execução exclusiva por desbaste, têmpera seletiva.
* Fio: full flat , distal taper
* Tipo: ? (desenha logo que temos que fazer...rs)
* Comprimento total: 27,5 cm
* Comprimento da lâmina (fio): 14,5 cm
* Largura máxima: 40 mm
* Espessura máxima: 5 mm
* Peso: 219 gr
* Cabo: rádica de imbuia.
* Bainha: couro bovino, tingida e costurada manualmente.







  Muito aprendizado, um curso que realmente valeu a pena. Posso dizer que sem a ajuda do Ismael e de seu Fiel Escudeiro, o Cesar, não teria chegado no resultado apresentado. Registro o meu especial agradecimento ao Cesar que foi incansável em nos ajudar. O sobrinho do Ismael, também deu uma mão no acetinado.
  Fiz amigos para a vida toda e agora posso dizer que tenho um sólido ponto de partida para iniciar na cutelaria. Obrigado amigos!