domingo, 10 de setembro de 2017

Minha primeira faca! + de 30h de trabalho!

   Pois então, comecei no mundo da cutelaria. Depois de muito estudo e muitas ferramentas, finalmente pude fazer minha primeira faca. Nada parecido com o programa "Desafio do Fogo" do History Channel, mas é um começo.


   Esse desejo de forjar e confeccionar uma lâmina era algo que me acossava ultimamente e a maior dificuldade é que eu moro em um apartamento e arrumar um lugar para levar a tralha era um problema (meu muitíssimo obrigado aos amigos da Marmoraria Kruger!).
    Comprei uma forja a gás, a primeira a carvão que fiz, de uma churrasqueira portátil, era inviável, dava muito trabalho e fazia muita sujeira. Um bigorna boa, foi na segunda tentativa. Mandei confeccionar um banco para poder transporta-la e usa-la em qualquer lugar. E a lista de outras acessórios é grande, de segurança até o acabamento para dar às peças criadas.
    Nesta faca, os únicos equipamentos elétricos que usei foram: uma esmerilhadeira, para retirar a carepa do forjamento e cortar algumas arestas, dando o formato grosseiro da lâmina; e uma furadeira de bancada, para furar o cabo e o ferrule. Tudo foi feito manualmente, com limas, grosas e lixas, o que demandou mais de 30 h de trabalho árduo em vários dias e algumas semanas (sempre que havia possibilidade de trabalho).

Características da faca:

* Lâmina: drop point, forjada.
* Tipo: faca de uso geral. 
* Comprimento total: 26 cm
* Comprimento da lâmina (fio): 13 cm
* Largura máxima: 37 mm
* Espessura máxima: 3 mm
* Peso: 180 gr
* Cabo: madeira de pintangueira (lá do RS) tratada com óleo de tungue (meio a meio com limoneno).
* Espiga oculta, ajustada no cabo através de calor e posteriormente colada nesse.
* Aço: 1070 (0,7% de carbono), consegui com o cuteleiro profissional Jackson Shaeffer (Alfredo Wagner-SC).
* Ferrule: latão
*Tempera: parcial? (foi a tentativa .... o resultado efetivo da têmpera é uma incógnita que me perturba)
* Bainha: do tipo saco, de couro bovino.

O tempo aproximado gasto  foi de:

   1h30min para forjar a faca + 30 min para esmerilhar e cortar.
   8 horas para ajustar o formato da lâmina e dar o acabamento para posterior têmpera
   1 hora para fazer a têmpera
   8 horas para limpar, corrigir falhas da tempera, definir geometria do fio e pré-afiar a lâmina.
   6 horas para fazer o cabo 
   4 horas para fazer o ferrule
   3 horas para outros detalhes, como colocação do cabo, pintura e afiação final.
   3 horas para confecção da bainha.

   As mãos são bastante exigidas no trabalho manual, principalmente para lixar e limar. O que me deixou com os dedos amortecidos pelo trabalho incessante em algumas etapas do processo. O forjamento também é exigente, pois trabalhei com uma marreta de 1,5 kg. 
   É inviável confeccionar facas para venda sem uma lixa de cinta. Como hobby, o trabalho inteiramente manual pode ser interessante, o que é meu caso.
   Há muitíssimo que aprender, a cutelaria é um aprendizado constante (um universo de estudo). Infelizmente ainda não encontrei um professor para me ensinar e corrigir minhas falhas. Preciso tempo e dinheiro para viajar e fazer um curso, aqui por essas bandas ainda não achei. Sei que tenho muito que melhorar, estou começando e me esforço como posso.
    Seguem algumas fotos do processo com comentários (desculpe pela qualidade das fotos). Sugestões e críticas são bem vindas, obrigado!


 Ta aí o guasca, no espaço cedido pela Marmoraria Kruger. Forja, bigorna e banco de metal.


Temperatura de mais de 1000 oC na forja.





Resultado do forjamento, da lâmina original à peça forjada. Falta muito que melhorar a qualidade do forjamento, se nota pela forma final dada a peça.



Aqui, já um esboço pintado do recorte a ser feito.


Peça esmerilhada, retirada da carepa e recortada. Muito feia.

Peça com o contorno definido (na lima).

Algumas limas e lixas depois.


























A peça ficou reta.


Daqui saiu o cabo!

Depois de muito, mas muito trabalho, refinamento da lâmina, tempera, refinamento da lâmina, ferrule de latão e cabo, segue o resultado final.


Faca com o resto do galho de onde foi retirado o cabo. Algumas marcas do forjamento ficaram. Estampei CH e o nr. 1 para dizer que essa foi a primeira. Propositalmente
desalinhei as letras.


Algumas marcas de lixamento ficaram no cabo.

Detalhe do cabo e retidão da lâmina. A geometria do cabo poderia ser melhor. Estou aprendendo.




Primeira bainha.


Links recomendados para quem quer enveredar pelos difíceis caminhos da cutelaria:

http://www.cutelariaartesanal.com.br/forum/
http://berardofacascustom.blogspot.com.br

   Quero agradecer a todos os que disponibilizaram gratuitamente o seu conhecimento sobre cutelaria.

   O Brasil possui alguns dos melhores cuteleiros do mundo, mas temos que melhorar, existe muita gente com potencial. Temos que divulgar essa arte milenar que nos enriquece culturalmente.

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Atualização

   Eu não tinha gostado da geometria do cabo e isso vinha me incomodando, então, resolvi muda-la. Fiz linhas mais fluidas, um cabo mais fino e retirei o excesso de curvas que não me pareciam adequadas à faca. Segue o resultado.